Primavera sombria

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Descrição

Feminismo e psicopatologia são alguns dos termos atribuídos ao trabalho artístico de Unica Zürn (1916 – 1970) poeta, escritora e artista visual alemã ligada ao surrealismo cuja obra permanece obscurecida.

Primavera sombria, que chega às livrarias em edição inédita da 100/cabeças, com tradução de Claudia Cavalcanti, abre uma importante fenda na parede de obscurantismo que envolve a artista, cuja obra completa foi lançada na Alemanha a partir de 1988.

Por meio de uma narrativa visceral e pungente, inspirada em episódios biográficos da autora, Primavera sombria apresenta a história de uma menina que lida com a precariedade das relações familiares e a descoberta da sexualidade a partir de um emaranhado de jogos e delírios que povoam essa experiência, em alguns momentos violenta e traumática. “A vida é insuportável sem a dor”, escreve Zürn.

“A menina protagonista do relato ainda habita na medula do irredutível. Tudo está permitido ‘para que o entusiasmo se mantenha’ e para escapar, assim, da monotonia da vida familiar. Entregue ao drama, brinca, sente um encanto perverso pelo perigo, o horror e o medo a excitam. Habita a poesia”, escreve no prefácio a surrealista espanhola Lurdes Martínez, integrante do Grupo Surrealista de Madri desde 1992 e coeditora da revista Salamandra.

Primavera sombria teve sua primeira edição em 1967, três anos antes da trágica morte de Zürn aos 54 anos, quando se atirou da janela do apartamento em Paris onde vivia com seu companheiro, o escritor, pintor, fotógrafo e surrealista Hans Bellmer (1902 – 1975).

Introduzida no Surrealismo por Bellmer, Unica Zürn aderiu com fervor ao movimento. O automatismo psíquico e a poesia anagramática são procedimentos marcantes em suas obras, que percorreram Berlim e Paris naquele período em exposições nas galerias Springer de Berlim, no Soleil dans la tête e no Point cardinal. Seus trabalhos também integram EROS (Exposition inteRnatiOnale du Surréalisme, Paris, 1959). Zürn também publicou livros e plaquetes nas quais se destacam os desenhos e anagramas como Hexentexte (Textos de feiticeira, 1954) e Oracles et Spectacles [Oráculos e Espetáculos, 1967].

Diagnosticada como esquizofrênica, Zün foi internada pela primeira vez em um centro psiquiátrico durante sua viagem a Berlim em 1960, e passou por uma série de instituições na última década de sua vida. Quando escreveu Primavera sombria, Zürn passava por uma internação em razão do agravamento de sua condição.

A narrativa é permeada por essas experiências. Nos últimos anos de sua vida, a artista refere-se a si mesma em terceira pessoa, “em uma aproximação labiríntica aos momentos transcendentais de sua vida”, destaca Martínez. O despertar do desejo na infância, o feitiço do amor, o caminho à loucura, o controle das alucinações e a decadência final da artista envolvem seus trabalhos.

Lurdes Martínez ressalta ser inevitável e necessário associar Zürn a Bellmer e à loucura, sem que sua carreira seja reduzida ou enclausurada por essas circunstâncias. “De inegável transcendência, ao contrário, essas experiências abriram sua vida para as infinitas possibilidades da imaginação e da criatividade, como ela mesma reconheceu em seus escritos. É imerecido estabelecer uma causalidade entre Bellmer e a doença mental de Unica, tendo em vista que isso a abandona na sarjeta do vitimismo e oculta os matizes de uma existência marcada pela excepcionalidade.”

Sobre a autora

Unica Zürn (Berlim, 1916 – Paris, 1970), é autora de uma obra de digestão difícil e pouco conhecida, porém, em caso algum, desatendida. Expôs e publicou em vida com escassa repercussão, exceto no círculo surrealista, que a celebrou até ser valorizada por seus romances Primavera sombria (1967) e Der Mann im Jasmin [O homem jasmim], que fora considerado por Michel Leiris como o livro mais importante publicado em 1971. Sua obra completa, composta por oito volumes, está disponível na Alemanha desde 1988. Entre 1933, ano da ascensão de Hitler ao poder, e a queda do Terceiro Reich em 1945, ingressa na produtora cinematográfica UFA, como arquivista e escritora de roteiros publicitários, colabora como voluntária para o Deutscher Frauenarbeitsdienst (serviço do trabalho feminino do regime) e, após o falecimento do seu pai, afiliado ao NSDAP desde 1932, frequenta os círculos do partido nazi, por meio do novo esposo de sua mãe e alto dignitário do Reich, Heinrich Doehle. Ali conhece aquele que será seu primeiro marido, Erich Laupenmühlen, executivo da Leitz-Cameras, embarcando numa vida matrimonial de dona de casa que lhe concederá dois filhos. Deixando para trás a vida berlinense, que mais tarde qualificará de “provinciana”, Unica se entrega ao surrealismo. Bellmer, que aderira ao grupo nos anos trinta, a introduz no redemoinho de figuras brilhantes e excêntricas que a presença de André Breton convoca (Hans Arp, Man Ray, Duchamp, Ernst, Roberto Matta e Méret Oppenheim, das primeiras gerações; Victor Brauner, Joyce Mansour, Sarane Alexandrian, Claude Tarnaud e André Pieyre de Mandiargues, do comboio do pós-guerra). Unica Zürn transcorrerá os dez últimos anos de sua vida em um estado próximo da loucura. É internada pela primeira vez em uma instituição psiquiátrica durante sua viagem a Berlim em 1960, após abandonar Bellmer (Karl Bonhoeffer Hospital, Berlim-Wittenau). Depois, nada será como antes, nem quando retorna a Paris e retoma sua vida. Suicida-se diante de Bellmer, depois de uma noite de diálogo tranquilo, durante uma das permissões de saída concedida pela clínica em que passou sua última internação.

Ficha técnica

Título: Primavera sombria – uma narrativa
Autor: Unica Zürn
Tradução: Claudia Cavalcanti
Prefácio: Lurdez Martínez
Projeto Gráfico: Guilherme Pacola
Número de páginas: 92
Formato: 20,5×13,5 cm
ISBN: 978-65-87451-20-6
Preço: R$ 52,00
Ano da publicação: 2024