Van Gogh: mutilado e suicidado

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Descrição

Antonin Artaud e Georges Bataille

Van Gogh: mutilado e suicidado

No mês que marca os 170 anos do nascimento de Vincent van Gogh (1853-1890), as Edições 100/cabeças celebram a lucidez ativa do pintor com a publicação de Van Gogh: mutilado e suicidado. O livro coloca em diálogo ensaios de Antonin Artaud e Georges Bataille, traduzidos por Diogo Cardoso.

Escritos em um período de intensa atividade do movimento surrealista, entre as décadas de 1930 e 1950, os textos questionam, por diferentes vias, o estigma psiquiátrico que ainda pesa sobre a imagem do artista. Ao trazerem elementos da psicanálise, antropologia e etnologia, no caso de Bataille, e a verve poética em tom de manifesto antimanicomial em Artaud, os ensaios se complementam e apresentam uma atualidade perturbadora.

“Apesar de suas naturezas distintas, ambos os autores veem no pintor um espírito superior, cuja alienação – e não a loucura, vale frisar – se insere entre a genialidade e a insubordinação irrestrita”, destaca Cardoso na apresentação.

O ensaio A mutilação sacrificial e a orelha cortada de Van Gogh foi publicado em 1930, ano marcado pela eclosão do Segundo Manifesto do Surrealismo. No texto, Bataille traz uma chave de interpretação original para esse episódio crítico, relacionando-o com o fenômeno do sacrifício. A relação de Van Gogh com a luz solar, a presença dos girassóis em suas pinturas, a convivência e a ruptura com Paul Gauguin são alguns episódios que ganham camadas de significado quando focados pela lente do autor.

Van Gogh, o suicidado pela sociedade foi publicado por Artaud em 1947, um ano após seu retorno à Paris e pouco antes de sua morte em 4 de março de 1948. É uma resposta ao artigo do Dr. Beer que, ao “analisar” a exposição do artista no museu de l’Orangerie, confere a Van Gogh o diagnóstico de “esquizofrenia do tipo degenerado”.

Ele próprio diagnosticado como louco e internado em diferentes manicômios franceses, sujeito a tratamento de eletrochoques, Artaud visita a exposição e destila sua indignação neste texto poético que enfatiza a “boa saúde mental” do pintor e a qualidade estética de sua obra, ao mesmo tempo que escancara a política manicomial como invenção de uma sociedade depravada, “para se defender das investigações feitas por algumas inteligências extremamente lúcidas cujas faculdades de adivinhação a incomodavam”.

“Van Gogh era uma dessas naturezas dotadas de uma lucidez superior que lhe permitia, em qualquer circunstância, ver mais longe, infinita e perigosamente mais longe do que o real imediato e aparente dos fatos”, escreveu Artaud.

Livro objeto
O projeto gráfico da edição, a cargo de Daniel Justi, cria pontos de contato com Van Gogh na forma de livro objeto. A capa em amarelo – cor que remete aos girassóis pintados pelo artista – traz ao centro a silhueta da orelha mutilada. O tamanho e formato desta imagem foram baseados na obra Sugababe, do artista Diemut Strebe que, a partir de material genético do sobrinho tataraneto de Van Gogh, criou uma réplica viva de sua orelha. Cabe ao leitor arrancá-la e revelar a imagem do artista.

Antonin Artaud
Poeta e dramaturgo, Artaud (1896-1948) foi um dos nomes mais importantes do movimento surrealista. Dirigiu o Bureau de Recherches Surréalistes, tendo publicado no terceiro número da revista La Révolution surréaliste diversas cartas insurgentes dirigidas a instituições e figuras que vão desde o Papa a Adolf Hitler. Acometido por perturbações mentais, passou por diversas internações em manicômios ao longo de sua vida. Dessas internações, resultaram as correspondências com o Dr. Ferdière reunidas em Cartas de Rodez (1946). Autor de uma vasta obra, destacamos: O pesa-nervos (1925), Heliogábalo ou O anarquista coroado (1934), O teatro e seu duplo (1938), Para acabar com o julgamento de Deus (1948), entre outros. Do autor, foi publicado Carta à vidente pelas Edições 100/cabeças (2020), com reenvio de Sergio Lima.

Georges Bataille
Escritor, filósofo e ensaísta, ao longo de sua vida Bataille (1897-1962) se dedicou a diversas áreas do pensamento. Com Carl Eisenstein e Georges Henri Rivière, funda a revista Documents (1929-1931) que tem como subtítulo “doutrinas,arqueologia, belas-artes, etnografia”. Seu interesse pelo sacrifício humano o leva a fundar a sociedade secreta Acéphale, além da revista homônima, publicada de 1936 a 1939, que contou com a colaboração de nomes como Michel Leiris, André Masson, Pierre Klossowski e Roger Caillois. Vinculado à essa sociedade, funda o Collège de Sociologie que realiza conferências sobre temas ligados ao sagrado, aos mitos, ao xamanismo, à revolução, entre outros. Com André Breton, funda o grupo Contre-attaque, com o qual os surrealistas colaboram. O grupo existiu até o ano seguinte, tendo publicado um único número da revista Contre-attaque – union de lutte des intellectuels révolutionnaires. De sua obra destaca-se História do olho (1928), O ânus solar (1931), A experiência interior (1943), O erotismo (1957), entre outros.


Ficha técnica

Título: Van Gogh: mutilado e suicidado
Autores: Antonin Artaud e Georges Bataille
Tradução e apresentação: Diogo Cardoso
Projeto Gráfico: Daniel Justi
Encadernação: Brochura
Número de páginas: 112
Formato: 14 x 19 cm
ISBN: 978-65-87451-12-1
Preço: R$ 68,00
Ano da publicação: 2023